
Estratégia
Escrito por:
Focusnetworks
24 de jun. de 2025
O bem-estar deixou de ser um simples segmento de mercado para se tornar um pilar cultural na vida do consumidor brasileiro. Essa transformação, acelerada por uma consciência maior sobre saúde integral e pela busca por um estilo de vida mais equilibrado, representa a oportunidade de mercado mais importante desta década. Para as marcas que desejam não apenas participar, mas liderar neste cenário, é fundamental compreender a profundidade e a amplitude desta nova era.
A escala do mercado de bem-estar global é um sinal claro do seu poder econômico. Segundo o Global Wellness Institute (GWI), a indústria de bem-estar foi avaliada em $6,3 trilhões de dólares em 2023. As projeções indicam um crescimento para $6,8 trilhões ao final de 2024, com uma trajetória que aponta para um valor impressionante de $9 trilhões até 2028. Para colocar em perspectiva, este mercado já supera setores tradicionais como o farmacêutico e o de esportes, mostrando uma realocação massiva dos gastos do consumidor em direção a produtos e serviços que promovem saúde e qualidade de vida.

Dentro deste cenário global, três setores se destacam como principais motores de crescimento: cuidados pessoais e beleza ($1,21 trilhão), alimentação saudável, nutrição e perda de peso ($1,9 trilhão), e atividade física ($1,06 trilhão). Para o Brasil, historicamente um dos maiores mercados de beleza do mundo, esses números não são apenas estatísticas distantes; são um prenúncio de uma expansão doméstica sem precedentes. A oportunidade não está mais limitada a um único setor, mas distribuída por um campo vasto e conectado que vai de suplementos e alimentos funcionais a aplicativos de meditação e academias.
Wellness moderno: uma visão integrada
A compreensão do consumidor sobre o que é "bem-estar" mudou — e muito. A visão antiga, muitas vezes fragmentada e focada apenas em estética ou desempenho físico, deu lugar a uma perspectiva holística. As tendências para 2025 apontam para uma valorização crescente do bem-estar mental e da saúde como um todo, onde corpo e mente são vistos como um sistema integrado. Essa mudança de mentalidade significa que os consumidores agora entendem as conexões complexas entre nutrição, sono, estresse, saúde emocional e atividade física.
Essa visão integrada é reforçada pela popularização de tecnologias vestíveis, como smartwatches e monitores de atividade, que fornecem dados em tempo real sobre métricas de saúde. O consumidor moderno não busca mais soluções isoladas; ele procura abordagens que reconheçam e atendam à sua complexidade como indivíduo. Marcas que continuam a comunicar em silos — uma marca de fitness que ignora a importância do sono reparador, ou uma marca de suplementos que não aborda o gerenciamento do estresse — correm o risco de soarem ultrapassadas. A comunicação eficaz em 2025 deve demonstrar como um produto ou serviço se encaixa em um estilo de vida holístico, atuando como uma peça do grande quebra-cabeça que é a saúde integral.
Retrato do consumidor: em busca de propósito, equilíbrio e desaceleração
Ao mesmo tempo em que o mercado cresce, vemos uma mudança profunda no comportamento e nos valores do consumidor. Surge um paradoxo interessante: enquanto a indústria do bem-estar floresce financeiramente, os níveis de estresse, burnout e sobrecarga de informação na sociedade continuam alarmantemente altos. Esse contraste revela uma necessidade clara que muitos produtos no mercado ainda não conseguem suprir. O consumidor não busca apenas mais um produto, mas uma solução genuína para as pressões da vida moderna.
Nesse contexto, conceitos como slow living ganham força, representando uma resposta direta ao ritmo frenético e à pressão por produtividade constante. Nascido nos anos 80, o movimento prega uma vida mais consciente, intencional e menos acelerada. Essa busca por desacelerar não é um sinal de passividade, mas de uma escolha ativa por equilíbrio e propósito. O consumidor de 2025 está ativamente procurando maneiras de reconquistar seu tempo, sua atenção e seu espaço mental.
Essa mentalidade se reflete em tendências de consumo mais amplas. Um relatório da Euromonitor para 2025 destaca a tendência "Chegando bem na terceira idade", que sinaliza uma mudança de uma abordagem reativa (tratar doenças) para uma proativa e de longo prazo em relação à saúde. O consumidor não é mais um paciente passivo, mas um arquiteto ativo do seu próprio bem-estar, usando dados, conhecimento e ferramentas para construir um estilo de vida sustentável. As marcas, portanto, devem se reposicionar. Seu papel não é mais o de um mero vendedor, mas o de um parceiro de jornada, um facilitador que fornece os blocos de construção — sejam eles produtos, informações ou comunidades — para que o consumidor possa projetar e viver uma vida mais saudável e com mais propósito.
Tendências estratégicas do setor de wellness nas redes sociais
Para aproveitar essas transformações, as marcas de bem-estar precisam traduzir essa nova realidade em estratégias de mídia social concretas. A diferenciação em 2025 não virá da simples presença digital, mas da capacidade de criar conteúdo relevante, autêntico e que gere uma conexão genuína com o público.
Em um ambiente digital saturado, o conteúdo puramente promocional perdeu a eficácia. A atenção do consumidor é um recurso valioso, e para conquistá-la, as marcas devem oferecer algo em troca: valor real. A principal tendência para 2025 é a criação de conteúdo proprietário — como artigos de blog, podcasts, vídeos e guias — que posiciona a marca como uma autoridade em seu nicho. Esse movimento, conhecido como brand publishing, transforma a marca de anunciante em editora.
O consumidor moderno prefere narrativas humanizadas, que destacam histórias reais e vozes autênticas. De fato, o tipo de conteúdo de influenciadores preferido por 49% do público é o que mostra o "dia a dia", pois cria uma conexão mais próxima. A estratégia, portanto, deve focar em educar e capacitar. Uma marca de suplementos pode criar uma série de vídeos sobre a ciência do sono; um app de yoga pode promover lives com fisioterapeutas para tirar dúvidas; uma empresa de alimentos saudáveis pode oferecer tutoriais sobre planejamento de refeições. O conteúdo deixa de ser um custo de marketing para se tornar um serviço, uma extensão do produto que ajuda o consumidor a atingir seus objetivos.
O poder estratégico dos microinfluenciadores
A era do endosso por celebridades, especialmente no setor de bem-estar, está sendo substituída pela era da confiança. Os consumidores estão mais céticos e percebem quando um influenciador se importa mais com o cachê do que com a qualidade do que indica. Nesse cenário, os microinfluenciadores (geralmente com menos de 50.000 seguidores) surgem como peças-chave. Eles são vistos como mais autênticos e acessíveis, e suas recomendações carregam um peso de genuinidade que grandes personalidades raramente conseguem replicar.
A colaboração com um portfólio de microinfluenciadores oferece vantagens estratégicas. Primeiro, é uma abordagem com melhor custo-benefício, permitindo que as marcas alcancem múltiplos nichos com o orçamento que seria usado para um único macroinfluenciador. Segundo, permite uma segmentação de público extremamente precisa, conectando a marca a comunidades engajadas em torno de interesses específicos, como corrida de montanha, nutrição vegana ou meditação mindfulness.
A seleção desses parceiros, no entanto, deve ser criteriosa. Não se trata apenas de olhar o número de seguidores, mas de avaliar a união entre autoridade e autenticidade. O parceiro ideal para uma marca de bem-estar é o "especialista autêntico": o nutricionista que compartilha suas próprias dificuldades com a alimentação, o educador físico que demonstra exercícios de baixo impacto para corpos reais, ou o dermatologista que explica a ciência por trás dos ingredientes de forma clara. Esses perfis constroem credibilidade através do conhecimento e confiança através da vulnerabilidade — uma combinação poderosa para gerar conversão.
O equilíbrio entre estética e realidade
A estética visual nas redes sociais continua importante, mas a perfeição inalcançável pode criar uma barreira entre a marca e o consumidor. As pessoas se conectam com a realidade, e pesquisas mostram que os consumidores são atraídos pela imperfeição e pela capacidade de se identificar com o conteúdo. Ver um produto sendo usado em um ambiente real, por pessoas diversas e com corpos variados, fornece uma prova social muito mais convincente do que uma imagem de estúdio impecável.
O desafio para as marcas é encontrar o equilíbrio entre o aspiracional e o acessível. A qualidade visual deve ser mantida, mas a narrativa precisa ser ancorada na realidade. Isso significa mostrar a jornada completa do bem-estar, incluindo os desafios: o suor real de um treino, a cozinha um pouco bagunçada durante o preparo de uma refeição saudável, a dificuldade de manter a consistência na meditação. É aqui que o Conteúdo Gerado pelo Usuário (UGC) se torna o ativo mais valioso de uma marca. Ao incentivar e destacar as fotos, vídeos e depoimentos de seus próprios clientes, a marca não só obtém um fluxo constante de conteúdo autêntico, mas também valida seus produtos através das experiências de pessoas reais.
O domínio do conteúdo dinâmico: reels, shorts e tiktoks
A atenção do consumidor digital é fugaz. A informação precisa ser entregue de forma rápida, envolvente e visual. Os formatos de vídeo curto, como Reels, TikToks e Shorts, se tornaram o principal veículo de comunicação nas redes sociais. Pesquisas indicam que o vídeo é o formato preferido para publicidade de influenciadores, com vídeos de até 60 segundos sendo particularmente eficazes. Além disso, formatos como transmissões ao vivo são valorizados por facilitarem a compreensão dos detalhes de um produto.
Para as marcas de bem-estar, esses formatos são ideais para entregar "pílulas de conteúdo" de alto valor. O potencial é vasto: uma técnica de respiração de 30 segundos para acalmar a ansiedade, uma receita rápida e saudável, um mito sobre nutrição desmistificado em 45 segundos, ou uma demonstração de como usar um equipamento de treino. Este conteúdo fácil de consumir não apenas captura a atenção, mas também se encaixa perfeitamente no estilo de vida do consumidor moderno, que busca informações úteis e práticas em movimento.
Construindo um posicionamento com propósito
Em um mercado onde produtos podem ser facilmente replicados, a lealdade duradoura não é construída sobre funções, mas sobre conexão emocional e alinhamento de valores. Para se destacar em 2025, as marcas de bem-estar devem ir além da simples venda e se posicionar com um propósito claro, capazes de construir comunidades e de dar voz aos seus consumidores.
O consumidor moderno não compra apenas um produto; ele "investe" em uma marca que reflete seus valores. A tendência "Sustentável e Verificado" da Euromonitor revela que os consumidores não se contentam mais com promessas vagas; eles exigem provas do compromisso de uma marca com a sustentabilidade e a ética. Da mesma forma, a comunicação deve refletir a diversidade da sociedade, com uma representação inclusiva de etnias, gêneros e idades, demonstrando um compromisso genuíno com valores sociais.
O propósito não pode ser apenas uma frase de marketing. Ele deve ser o centro de tudo que a marca faz: da cadeia de suprimentos transparente ao apoio a causas relevantes. Para uma marca de bem-estar, essa abordagem é especialmente poderosa. Uma marca de cosméticos que utiliza ingredientes da biodiversidade brasileira de forma sustentável e apoia comunidades locais, ou uma marca de suplementos que promove a conscientização sobre saúde mental, constrói um valor de marca que vai muito além do produto. O propósito se torna uma razão fundamental para o consumidor escolher, defender e se manter leal. Isso ativa um ciclo virtuoso: propósito atrai consumidores engajados, que formam uma comunidade forte, que impulsiona o crescimento e o lucro, permitindo que a marca invista ainda mais em seu propósito.
De clientes à comunidade: a engenharia do pertencimento
Um dos maiores erros estratégicos é confundir audiência (seguidores) com comunidade. Uma comunidade é um organismo vivo, um espaço de pertencimento, troca e suporte mútuo. Para o setor de bem-estar, onde os consumidores estão em jornadas pessoais desafiadoras, criar uma comunidade não é um luxo, mas um imperativo estratégico. Ela funciona como um sistema de apoio para os clientes, um laboratório de feedback para a marca e um motor de crescimento.
A construção de uma comunidade eficaz segue etapas claras: definir objetivos, estudar a persona, traçar os pilares da comunidade (propósito, valores, regras) e, crucialmente, incentivar a interação e ouvir ativamente os membros. Exemplos de sucesso no Brasil, como a NuCommunity do Nubank, mostram o caminho. Eles oferecem valor que transcende o produto, como acesso a informações e um espaço para troca de experiências.
Isso revela uma mudança fundamental na fidelidade. Modelos tradicionais, como o Beauty Club da Sephora, são principalmente transacionais (pontos por compra). Embora eficazes, eles constroem lealdade ao programa, não à marca em um nível emocional. A nova fronteira da lealdade é relacional. É construída sobre o sentimento de pertencimento. Uma comunidade forte cria uma "barreira de saída" emocional que um concorrente não pode quebrar com um simples desconto. O retorno é medido não apenas em compras, mas em defesa da marca e valor vitalício do cliente (LTV).
A voz do consumidor como ativo estratégico: UGC e cocriação
A era da comunicação de via única, onde a marca controlava a narrativa, acabou. Hoje, o consumidor é um cocriador da identidade da marca. O Conteúdo Gerado pelo Usuário (UGC) é a prova mais visível disso. Sua força reside na autenticidade. Ao destacar o conteúdo de seus clientes em seus canais oficiais, a marca não apenas os valida (fazendo-os sentirem-se vistos), mas também constrói a forma mais poderosa de prova social.
A cocriação leva essa parceria um passo adiante, envolvendo a comunidade diretamente no desenvolvimento de produtos. Isso pode ir de ações simples, como pedir para votarem no próximo sabor de um suplemento, até processos complexos, como convidar membros para testar versões beta de um aplicativo. Essa abordagem transforma o consumidor de um comprador passivo em um parceiro investido no sucesso da marca. Ele deixa de ser apenas um cliente para se tornar parte da história, um defensor apaixonado que sente que a marca não apenas o ouve, mas o valoriza como colaborador.
Conclusão: o futuro do marketing de bem-estar é a conexão humana
A análise do cenário para 2025 revela uma verdade clara: o mercado de bem-estar atingiu um ponto de virada. As estratégias do passado não serão suficientes para garantir o futuro. As marcas que prosperarão serão aquelas que agirem de acordo com três princípios fundamentais.
O wellness não é mais nicho. É cultura.
O bem-estar se tornou um valor que influencia todas as decisões de compra. A abordagem da sua marca precisa ser integrada, reconhecendo que a saúde permeia tudo.Marketing de Relevância vs. Marketing de Presença.
Em um mundo de informação infinita, apenas estar presente não adianta. O novo imperativo é a relevância: entregar o conteúdo certo, para a pessoa certa, de uma forma que eduque, inspire ou entretenha.A diferenciação está em como a marca faz o consumidor sentir.
No fim das contas, a vantagem competitiva mais duradoura está no campo da emoção. A diferenciação virá da capacidade de uma marca fazer seus consumidores se sentirem vistos, compreendidos, apoiados e pertencentes a algo maior.
Esse sentimento é o resultado de cada decisão estratégica que abordamos: o propósito claro, o conteúdo autêntico, a construção de uma comunidade solidária e a valorização da voz do consumidor. O futuro do marketing de bem-estar não será vencido com algoritmos ou orçamentos, mas com empatia e conexão humana. A marca que dominar a arte de fazer seu cliente se sentir bem — não apenas com o produto, mas com a própria marca — será a que verdadeiramente se destacará em 2025 e nos anos que virão.
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